segunda-feira, 21 de novembro de 2011

que surpresa

um post meu.

mas reparei que não temos escrito nada de jeito.

Não que eu vá escrever alguma coisa de jeito. Posso, porém, falar um bocadinho acerca do livro que ando a ler, o qual incita à embriaguez ("Os Paraísos Artificiais", Baudelaire). Eu gosto de livros que incitem à embriaguez, uma vez que retira um peso tremendo da minha consciência a aprovação de uma grande entidade intelectual.

"Profundas alegrias do vinho, quem vos não conheceu? Quem quer que tenha tido um remorso a apaziguar, uma recordação a evocar, uma dor a afogar, um castelo em Espanha a construir, todos, enfim, vos invocaram, deus misterioso escondido nas fibras da vinha. Como são grandes os espectáculos do vinho, iluminados pelo sol interior! Como é verdadeira e ardente esta segunda juventude que o homem vai buscar dentro de si! Mas quão temíveis são também as suas volúpias fulminantes e os seus feitiços enervantes! E contudo dizei, em vossa alma e consciência, juízes, legisladores, homens da sociedade, vós todos a quem a felicidade abranda, a quem a fortuna torna fáceis a virtude e a saúde, dizei, qual de vós terá a coragem impiedosa de condenar o homem que bebe génio?"

Num estilo não tão grandiloquente, elaborei uma pequena lista das razões que me fazem apreciar o supracitado estado:

1. uma auto-consciência severamente diminuída significa passos de dança gradualmente mais estúpidos e, por isso mesmo, muito mais apetecíveis
2. a capacidade de falar outras línguas desenvolve-se, atingindo o seu expoente máximo
3. o tempo parece deixar de existir, ou melhor, existe todo no mesmo instante
4. a percepção da dor é afectada, pelo que a aproximação exagerada e violenta de uma parede de pregos se torna relativamente possível
5. o medo de multidões tonitruantes e produtoras de testosterona (vulgo moche) desaparece

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